Para o espectador que, nos anos 2000, viu o nome de Pedro Carlos Rovai associado à série infantil Tainá – dirigiu o primeiro filme, produziu o segundo – e a um trabalho delicado como As Tranças de Maria, talvez cause espanto lembrar que, nos anos 1960 e 70, ele foi um dos responsáveis pelo fenômeno da pornochanchada.
O cinema brasileiro é muito fácil de rotular, mas Rovai e sua carreira são a prova de que é possível ousar, tentar, mudar. Paulista de Ourinhos, ele nasceu em 1938. Morreu nesta quinta, 1°, de câncer, aos 80 anos, no Rio. Será cremado no sábado, 3.
Rovai iniciou-se no cinema como assistente de direção de Luiz Sérgio Person (em São Paulo S/A) e Rubem Biáfora (O Quarto), dois importantes autores de perfil autoral. Estreou como realizador em 1969, com Adultério à Brasileira. Seguiu na vertente da comédia com Nem Santa nem Donzela e A B… de Ouro, episódio de Os Mansos.
E então algo se passou em 1974. No mesmo ano, Rovai realizou dois filmes sucessivos com Adriana Prieto – Ainda Agarro Essa Vizinha e A Viúva Virgem. Foram estouros de bilheteria, fizeram milhões de espectadores e ajudaram a mapear esse gênero tão específico, a pornochanchada. Muito se discute a junção de ‘porno’ com ‘chanchada’, que terminou dando um caráter pejorativo a filmes que, em plena ditadura militar, forçaram os limites da censura questionando os costumes e o erotismo.
Há até quem discuta se era um pornochanchadeiro. Era. Loira e bela, Adriana Prieto destacou-se nos filmes de David Neves quase como uma anti-Leila Diniz, de tão diáfana. E aí Rovai fez dela a noivinha que perde o marido no leito conjugal e, viúva e virgem, descobre o sexo com um típico malandro carioca. Outro malandro fica obcecado pela nova vizinha e não descansa enquanto não faz sexo com ela. São filmes que definiram uma época. Rovai faz parte da história.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.