Como sempre, para quem não conseguiu assistir aos 315 filmes que integraram a programação da 42.ª Mostra, o evento oferece um ‘chorinho’ – a última chance. A repescagem da Mostra de 2018 ocorrerá somente no Cinesesc, desta quinta, 1º, até a quarta, 7. Entre os vencedores do prêmio da crítica, só o melhor filme estrangeiro – Nuestro Tiempo, do mexicano Carlos Reygadas – integra a seleção. O brasileiro Todas as Canções de Amor, de Joana Mariani, ficou de fora, mas por um motivo plenamente justificado – estreia na próxima quinta, 8.
Reygadas, Nuri Bilge Ceylan, Olivier Assayas, Lee Chang-dong, Amos Gitai. Todos passarão de novo. Ceylan, o grande autor da Turquia, atinge um daqueles momentos que você pode definir como ‘sublime’ em A Árvore dos Frutos Selvagens. Siran, o protagonista, reencontra a antiga namorada. Conversam sob umas árvore, cujas folhas – douradas do outono – começam a cair. Conversam? Na verdade, muito mais interessante do que aquilo que dizem, talvez seja o que calam (mas revelam pelos olhos e gestos tensos).
Ceylan tem um olho para a beleza, mas, no limite, o que se retém dos filmes dele são os admiráveis diálogos – a discussão de Siran, que quer publicar seu primeiro livro, com o escritor consagrado. Ele o considera um tolo; agridem. Siran, que é islâmico, sente-se atormentado por dúvidas. Vai aos religiosos, que o esclarecem, mas levantam novas questões. A fé, como o amor, talvez não deva ser explicada racionalmente. O amor também está no centro de Nuestro Tiempo, e o próprio diretor Reygadas faz o protagonista. A mulher e ele têm um acordo de amor livre, mas, quando ela se retrai, manifesta dúvidas, ele surta. Pensa que ela está apaixonada pelo amante. A relação corre o risco de implodir.
Com uma audácia sem limites no tratamento da forma, Reygadas explode a narrativa tradicional. Cria cenas tão longas quanto belas – uma brincadeira de jovens no barro; um concerto de címbalos. A natureza participa do ciclo da vida – tempestades, duelos de touros. O casal protagonista possui uma fazenda para criação desses animais.
Gitai, com três filmes, A Casa, Uma Carta para um Amigo em Gaza e Um Trem em Jerusalém, flagra de novo os impasses do Oriente Médio – existirá outro tema para ele? São destaques – as transformações do mundo editorial no Assayas, Vidas Duplas; a herança da ditadura militar no sensível Deslembro, de Flávia Castro; a prisão da ex-presidente Dilma, também durante a ditadura, em Torre das Donzelas, de Susanna Lira; o sequestro que encobre algo muito maior, como percebe o policial de Culpa, de Gustav Möller, etc. Há muito que (re)ver na repescagem.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.