Para muitos artistas que expõem na Bienal de São Paulo, o trabalho comissionado para o evento não para por ali. Em complemento às suas mostras individuais, nomes como Nelson Felix e Denise Milan estão, também, com exposições paralelas em galerias de São Paulo.
Este ano, o evento, que é o maior de arte contemporânea da América Latina e segue até o dia 9 de dezembro no Parque do Ibirapuera, contou com uma dinâmica diferente. O curador-geral desta edição, o espanhol Gabriel Pérez-Barreiro, convidou sete artistas de várias partes do mundo para atuarem, também, como curadores em exposições próprias dentro da Bienal. No entanto, Gabriel selecionou também outros artistas para mostras individuais. É o caso de Felix e Milan.
Segundo o artista carioca, ao convidá-lo, Pérez-Barreiro deu liberdade para que continuasse a desenvolver um trabalho que já estava planejando. Em dois solstícios de inverno, Felix esteve em dois extremos das Américas, Anchorage, no Alasca, e Ushuaia, na Argentina. Os pontos seriam, de acordo com o artista, como “o início e o fim” das Montanhas Rochosas da América do Norte e dos Andes na América do Sul. Para Felix, as cordilheiras seriam a “coluna vertebral do globo terrestre”.
A partir das experiências das viagens, ele pensaria na materialização do seu trabalho, num “isolamento” em Paris. No meio do percurso, entre os dois solstícios, surgiu o convite de Pérez-Barreiro. “Era difícil dizer um não sonoro para a Bienal, mas juntou a fome com a vontade de comer, porque ele (Gabriel) disse que eu poderia fazer meu trabalho no evento”, analisa o artista, que propôs algumas condições. “Disse que precisaria de vários espaços e que o trabalho não iria se materializar totalmente na Bienal”, explica Felix, que garante, no entanto, que o projeto se materializa ali como uma escultura com “um início e um fim”.
O restante do projeto foi executado em São Paulo, mas fora da Bienal. Inspirado por suas viagens, Felix fez uma ação de mais de 24 horas na Ocupação 9 de Julho, no Centro da capital paulista. Içou dois mandacarus gigantes na parte externa do prédio. Dentro, teve uma experiência “catártica” e desenhou compulsivamente, inclusive nas paredes.
No antigo hall de entrada do prédio, agora, existe uma galeria de arte, a Reocupa, que foi inaugurada justamente com a exposição do trabalho de Felix, Esquizofrenia da Forma e do Êxtase. “Ganhei um presente”, diz o artista sobre a oportunidade de realizar suas obras na Ocupação.
“Lá, entrei numa onda e somou o local em si, a áurea de um espaço de resistência”, explica. “Estava ciente e me apropriei disso.” O lugar, ocupado pelo Movimento dos Sem Teto do Centro, o MSTC, abriga cerca de 120 famílias e estará aberto ao público por meio da galeria, por um brechó e por almoços oferecidos em datas específicas.
Felix diz que o seu projeto se relaciona com seus mais de 30 anos de atuação. “A minha vontade era fazer um trabalho que fechasse um pensamento de 30 anos de forma circular”, afirma. “É mais bonito uma sequência de trabalhos que voltam ao início do que algo linear.” Por ser uma homenagem aos outros trabalhos, o artista define as esculturas da Bienal como “canções.” Há ainda uma terceira parte do projeto, uma série de desenhos, em exposição na Galeria Millan, em São Paulo.
De dentro. Se o trabalho de Felix se baseia no que está na superfície da Terra, o de Denise Milan busca “tesouros” que estão escondidos nas profundezas. Há cerca de três décadas, a artista investiga e faz obras com pedras encontradas nos subterrâneos do Brasil.
“Trabalho com pedras há 30 anos e fui aprendendo a entender o que as estruturas delas contam”, explica a artista. O trabalho na Bienal, Ilha Brasilis, uma instalação com cristais e ametistas, é, assim como o projeto de Nelson Felix, um complemento do que a artista já vinha fazendo. “Esse trabalho faz parte de uma série, que evoluiu e cresceu por conta do pedido do Gabriel.”
Mais do trabalho de Denise Milan pode ser visto na mostra orDeNAção: o DNA da pedra, em cartaz na Galeria Lume. Lá estão 19 obras da artista, entre esculturas, objetos, instalações e desenhos. Todas são recentes e inéditas. A exposição vem combinada com um livro, Linguagem da Pedra, desenvolvido para explicar alguns dos processos sofridos pelas pedras desde a sua formação.
“A minha curiosidade era tamanha que eu decodifiquei a pedra”, brinca. Segundo a artista, sua exposição, com curadoria de Marcello Dantas, propõe uma experiência que se assemelha a entrar no microcosmo da pedra. “Faz um contraponto com a Bienal, mas existe uma sinergia muito grande.” Os materiais, em bronze, vidro e cristal fazem uma analogia para falar da metafísica da pedra, de acordo com Milan, cujo trabalho de investigação sobre as rochas conta com parcerias, inclusive, com cientistas do Massachusetts Institute of Technology, nos EUA.
NELSON FELIX
Galeria Reocupa. R. Álvaro de Carvalho, 427. 5ª a dom., 14 às 20h. Gratuito. Até 2/2.
DENISE MILAN
Galeria Lume. R. Gumercindo
Saraiva, 54. Tel. 4883-0351. 2ª
a 6ª, 10 às 19h. Sáb., 11h às 15h. Gratuito. Até 10/11.
BIENAL DE SÃO PAULO
Pavilhão da Bienal. Parque do Ibirapuera, s/n. Tel. 5576-7600. 3ª a dom., 9 às 19h. 5ª e sáb., até às 22h. Gratuito. Até 9/12.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.