No sexto e último dia da São Paulo Fashion Week, a cultura jovem deu o tom dos desfiles, trazendo, naturalmente, uma moda mais disruptiva e criativa.
A mineira Cacete Company, dos estilistas Raphael Ribeiro e Tiago Carvalho, fez uma ótima estreia no line-up do evento. Misturando referências esportivas, pornográficas e fetichistas, realizou uma apresentação vibrante e provocadora, assim como seu próprio nome.
Especializada em underwear masculino e feminino, eles investiram na renovação de seu repertório, incluindo aqui seu primeiro blazer de alfaiataria, assimétrico e em um tom de nude, assim como peças com cara de noite, como um vestido e um costume pretos bordados de canutilhos verdes.
Some a isso vestidos camisola de tule e chiffon de seda, usados sobre roupas esportivas, biquínis, lingeries e peças justas em tricô, como macacões e bermudas, algumas delas com recortes estratégicos, ovais e em tamanho suficiente para expor o bumbum sem o menor pudor. Pode até parece vulgar, mas não foi, especialmente pelas modelagens e pelos acabamentos sofisticados.
Os elementos mais chocantes da coleção, entretanto, foram duas estampas afrontosas, uma fotográfica pixelada e outra ilustrada, que traziam cenas de sexo explícito. A plateia, um mix de gente da moda, da noite e muitos integrantes da cena LGBT paulistana, aplaudiu animadamente.
O que veio na sequência também foi bastante empolgante. Numa coleção em que disse buscar suas raízes e uma liberdade perdida em algum ponto de sua trajetória, o estilista João Pimenta fez um desfile que é puro Brasil. Exagerado, sincrético, sagrado e profano, mixando uma profusão de referências aparentemente desconexas.
Entre elas estavam western, new-wave, barroco e muita religião, com estampas de Santo Antônio (de ponta cabeça), São Francisco e Iemanjá, além de looks que emulavam releituras de Exu e Omolu, só para citar algumas das entidades que foram apresentadas ao som de uma trilha sonora composta por Carlinhos Brown.
No guarda-roupa do estilista entram jaquetas tipo bomber bordadas com pedrarias, pantalonas em cores vibrantes, casacos de jacquard com motivos botânicos, camisas de oncinha e saias vaporosas. Muitas vezes decoradas por franjas.
Outra boa estreia dessa estação, a marca de streetwear Piet, do estilista Pedro Andrade, manteve o alto nível das apresentações do dia. Ela investiu numa mistura de elementos de moda formais (camisaria e alfaiataria) com muitos toques utilitários e esportivos.
Assim, um blazer de um costume aparentemente clássico ganha múltiplos bolsos na frente e botões de ajustes na parte de trás. Detalhes em tons acesos, como verde-limão, laranja elétrico e um azul intenso, pontuavam toda a coleção. Elementos tradicionais do sportswear, como náilon e néon, aparecem em acessórios simbólicos da moda de rua, como pochetes, papetes, tênis e mochilas. Com uma inspiração em montanhismo, os modelos carregavam cordas presas a mosquetões.
Depois da Piet, ainda desfilariam as grifes Ratier e Água de Coco. Na passarela dessa última, além de tops como a brasileira Carol Trentini, estava prevista a participação de Mickey e Minnie Mouse. Um fim escapista para uma semana de moda em busca de renovação.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.