A história de duas décadas gloriosas e recheada de títulos de Falcão na seleção brasileira de futsal termina, oficialmente, neste domingo, em Jaraguá do Sul, em Santa Catarina, onde o craque busca marcar o gol de número 400 para sair de cena em grande estilo. O ato final de Falcão em sua 258ª aparição com a camisa do Brasil será o amistoso com o Paraguai.
Aos 41 anos, Alessandro Vieira Rosa, o Falcão, se despede das quadras com a “amarelinha” deixando números praticamente imbatíveis. Eleito duas vezes melhor do mundo pela Fifa, em 2004 e 2008, e bicampeão mundial (2008 e 2012), Falcão ostenta 29 títulos pela seleção, é o maior artilheiro de Copas do Mundo com 48 gols e o maior goleador de todas as seleções brasileiras que jogam com os pés.
Ao Estado, Falcão, que se despede da seleção principalmente em razão da limitação física, conta que teve um casamento perfeito com a seleção brasileira, diz não guardar qualquer arrependimento, elege a vitória diante da Argentina no Mundial de 2012 como o momento mais especial de sua carreira com a camisa verde e a amarela e afirma que deve se aposentar das quadras ainda neste ano. Ele ainda organizará uma partida festiva em São Paulo, em 2019, para celebrar sua aposentadoria.
O que passou na sua cabeça nesses dias que antecederam o último jogo pela seleção?
Foram dias difíceis. Uma mistura de dever cumprido com a sensação de que está acabando. Não é fácil. É bem complicado, mas faz parte. Sou privilegiado de ter jogado até aos 41 anos, em alto nível. Tem uma hora em que a gente tem que escolher e acho que esse é o momento certo.
Você já faz jogos de exibição e tem escolinhas de futsal espalhadas ao redor do Brasil. Pretende atuar como empresário no futsal?
A minha sequência, na verdade, vai ser fazer jogos de exibição, agora ainda mais, tanto no Brasil quanto fora do país. Não penso em ser empresário. Na verdade estou parando para ter um tempo maior de fazer esses jogos exibição dentro de datas que eu quiser, que eu escolher, além da gestão com o Sorocaba, o que já ocupa muito meu tempo.
Como vai ajudar a seleção brasileira fora das quadras?
Hoje quase todos os patrocínios da seleção brasileira fui eu que ajudei a fechar, estando junto. Agora, daqui para frente, depende da abertura que eles (Confederação Brasileira de Futsal) derem. Deixo de ser jogador e, então, não depende só de mim.
Você chegou a se aposentar da seleção no ano passado, mas voltou atrás três meses depois. Ficou alguma mágoa do técnico PC de Oliveira?
Eles, PC e a comissão técnica, foram coerentes comigo e me chamaram para conversar. Tiveram essa preocupação e não tenho mágoa nenhuma. Na época, deixaram claro que não queriam renovar. Quando eles saíram, eu acabei sendo convocado e voltei. Naquele momento não tinha saído por vontade própria, mas entendi, pois não tenho cadeira cativa na seleção. Depois as coisas mudaram, acabei voltando e queria que fosse assim.
Quando estreou na geração de Schumacher e companhia, imaginou que jogaria duas décadas na seleção e tivesse feito tanto sucesso?
Realmente não imaginei que seriam duas décadas completas, que teria sido tão bem-sucedido, tão conhecido, tão representado não somente no Brasil, como no mundo inteiro. Então posso olhar para trás e ver que a história foi muito bacana, muito bem feita e bem escrita.
Após 20 anos, dá para dizer que foi um casamento perfeito? Qual o balanço que faz?
Posso dizer, sim, que foi um casamento perfeito. Muitas alegrias, algumas tristezas com sofrimento, com glória, como é, não é? Acredito que seja a maior relação de um atleta com o esporte. Foi muito forte, realmente, e muito legal. Que bom que a história foi escrita dessa forma, marcou a vida de muita gente, muitas gerações e fico muito feliz de ter deixado essa história bonita para contar.
Há algo do qual se arrepende de ter feito na seleção? E algo que deixou de fazer?
Nenhum arrependimento. Muito pelo contrário. Acredito que sempre estive na hora e lugar certos. Poderia falar da lesão de 2012, do primeiro jogo (vitória por 3 a 2 contra a Argentina, nas quartas de finais do Mundial), mas acabou, depois, se tornando a história mais bonita da minha carreira já que consegui ser decisivo e fazer dois gols mesmo com paralisia facial e uma lesão na panturrilha. Acredito que ali foi um risco e uma história muito bacana. Não tem nada que eu mudaria.
Consegue escolher o momento mais especial na seleção?
Sem dúvida, contra a Argentina. Por toda a história, pelo retrospecto daquele Mundial de 2012, por ser um Brasil x Argentina, faltando 10 minutos, o Brasil perdendo de 2 a 0 e eu naquelas condições ter feito o gol de empate e o gol da prorrogação e da vitória, com certeza, para mim, aquele momento é o mais especial da minha carreira.
Tem ideia de quando se aposentará do futsal?
Estou passando por um período de autoanálise e tudo indica que eu pare neste ano. Está tudo encaminhado para que isso aconteça.
Como vê o atual cenário político-eleitoral do Brasil?
Acredito que o momento é de mudança. O Brasil precisa disso. Se vai ser bom ou ruim, a gente tem que pagar para ver. Continuar como está, com os escândalos claros e comprovados que houve, não dá. É uma incógnita o que vem, mas precisamos de mudança.