Um manifesto intitulado Cientistas pela Democracia, que está circulando na comunidade acadêmica desde o dia 17, já recebeu mais de 1.600 adesões até a manhã desta quinta-feira, 25.
Sem citar o nome de nenhum candidato, o documento pede respeito à democracia e faz um apelo contra “qualquer tipo de violência”, discriminação e intimidação.
“As imperfeições do processo democrático necessitam correções, porém nunca deverão servir de pretexto para que renunciemos à democracia. Também repudiamos, com veemência, toda e qualquer apologia à tortura, as inúmeras formas de violação e as ameaças à preservação do meio ambiente praticadas por regimes autoritários do passado e do presente”, diz o documento.
O primeiro nome no manifesto é o do físico Sergio Rezende, professor da Universidade Federal de Pernambuco e ex-ministro de Ciência e Tecnologia no governo Lula, entre 2005 e 2010; seguido da bióloga molecular Helena Nader, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e presidente de honra da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC); e várias outras lideranças da comunidade científica e acadêmica.
“A iniciativa pertence a um grupo de pesquisadores, de diversas áreas. Não é uma iniciativa organizada por sociedades ou organizações científicas, e se trata mais de uma iniciativa de cidadania”, disse ao blog o imunologista Manoel Barral-Netto, pesquisador da Fiocruz e professor da Universidade Federal da Bahia, que é um dos organizadores do manifesto.
A motivação, segundo ele, foi um “desconforto com a situação atual do país, com claros sinais de possibilidade de comprometimento do estado democrático”, assim como “várias declarações de desrespeito às instituições” que vêm sendo feitas ao longo da campanha eleitoral.
“Como houve uma receptividade bastante positiva, decidiu-se por solicitar às sociedades científicas a divulgação do texto pelos seus meios de comunicação com os sócios”, diz o pesquisador.
Abaixo, a íntegra do manifesto:
“Cientistas pela democracia
Nós cientistas brasileiros, independente de nossas posições políticas ou ideológicas, vimos a público reafirmar o nosso pétreo compromisso com a democracia. A ciência, como bem público, precisa do ambiente democrático para progredir e produzir seus benefícios. Os regimes autoritários muito frequentemente instrumentalizam a ciência para fins contrários aos interesses da sociedade. A boa ciência necessita da crítica e do contraditório, do reconhecimento das diferenças e do respeito a opiniões divergentes, todas características que somente podem florescer em ambiente democrático.
As imperfeições do processo democrático necessitam correções, porém nunca deverão servir de pretexto para que renunciemos à democracia. Também repudiamos, com veemência, toda e qualquer apologia à tortura, as inúmeras formas de violação e as ameaças à preservação do meio ambiente praticadas por regimes autoritários do passado e do presente.
O fazer ciência pela vida, pelo progresso social, pelo bem estar da população, passa pela garantia da manutenção das liberdades, dos direitos humanos, pela pluralidade de ideias, pela eliminação da intimidação, da discriminação e da tortura, e pela oposição a qualquer tipo de violência, qualquer que seja sua motivação (étnica, de gênero, sexualidade, posição política ou qualquer outra).
Necessitamos sempre aperfeiçoar e consolidar a democracia para que a ciência avance e possa contribuir para as transformações sociais, tão necessárias à nossa sociedade.
Em 17 de outubro de 2018. “