Em tempos de palavras de ordem, hashtags políticas e manifestações nas ruas e nas redes, marcas de moda buscam causas e bandeiras para chamar de suas. Na segunda-feira, 22, abrindo os desfiles da São Paulo Fashion Week, em seu novo QG na Vila Leopoldina, a Osklen trouxe a questão da sustentabilidade e da preservação dos oceanos para a passarela. “Criamos uniformes para o ativismo de uma forma romântica, às vezes sexy, às vezes streetwear. O conceito se desdobra em toda a coleção”, afirma o diretor criativo Oskar Metsavaht. “São peças para pessoas urbanas que se manifestam em prol dos oceanos. Roupas com um misto do mergulhador, do surfista, do pescador, entre outras referências ao universo náutico. Fizemos até uma homenagem a Jacques Cousteau.”
Na prática, as roupas primaram por leveza, amplitude e conforto, em peças de construção aparentemente simples. Materiais nobres de origem natural, como a seda e o linho, foram a base de tudo, ao lado do algodão reciclado, do tricô manual de corda, das fibras sustentáveis feitas com pet reciclado e dos acessórios em palha, ráfia e couro de pirarucu. Em parceria amarrada com jovens artistas da periferia de Santa Luzia de Itanhy, no Sergipe, surgiram estampas inspiradas nos mangues, berçário da vida marinha.
Faltando menos de uma semana para as eleições presidenciais, Metsavaht define a coleção como “política lato sensu”. “Não estamos falando da eleição em si, mas esse desfile representa uma cobrança à sociedade e ao Estado em relação à preservação das áreas marítimas”, diz ele, que é embaixador da Unesco e integrou, em 2017, a delegação do Ministério do Meio Ambiente para a Conferência da ONU sobre os oceanos.
Na sequência, a estilista carioca Patricia Viera fez seu desfile levantando a bandeira do trabalho artesanal. Tendo o couro como principal matéria-prima de sua marca, colocou um grupo de artesãs realizando bordados em plena passarela. Em sua coleção de inverno, ela recorre à riqueza de cores e texturas encontradas no Peru. O clima é de extravagância e drama, com vestidos metalizados justíssimos e curtinhos, assim como outros na altura dos joelhos com mosaicos florais construídos com pequenos recortes de couro. Uma das jaquetas, segundo a estilista, levou mais de 13 dias para ficar pronta. Uma das maiores experts em couro no Brasil, ela destaca sua preocupação com a origem do material usado em suas roupas. “Couros exóticos não entram em nosso ateliê. Utilizamos apenas o de gado de corte, isto é, aqueles abatidos para virar alimento”, afirma a estilista.
Uma das jovens integrantes do evento, a marca masculina Torinno trouxe o top Marlon Teixeira e a atriz Deborah Secco para sua apresentação. Inspirada em uniformes e com uma pitada de militarismo, mostrou um guarda-roupa completo, que tem de moletons e conjuntos de plush para curtir o sofá de casa a peças de alfaiataria para ocasiões formais. É uma imagem mais conectada com a vida real e menos ligada a ideias mirabolantes – a moda conceitual, por sinal, está ameaçada de extinção no Brasil.
Em meio a um mar de desfiles comerciais neste segundo dia, foi um sopro de frescor a apresentação da Modem, outra integrante da nova guarda fashion nacional. Sob o comando do estilista André Boffano, fez uma das apresentações mais bacanas do dia, equilibrando boas ideias de design, execução preciosa e tino comercial. Pensando numa mulher madura, urbana e empoderada, desenhou uma coleção que foge dos lugares-comuns com jogos de assimetrias, desconstruções e misturas de texturas inesperadas (metalizado, jeans, couro e tricôs elaborados). “A cliente Modem é uma mulher forte, independente. Isso para mim é muito importante. Não é uma mulher que se veste para o homem, se veste para ela, tem sua própria atitude”, diz o estilista, pontuando a questão do feminismo, outra causa do momento.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.