Nenhuma ligação foi atendida. A família de Gabriel Rodrigues dos Santos, um rapazinho de 14 anos, não quer falar nada sobre o luto após enterrá-lo tão cedo. Mas a família de Gabriel não enterrou apenas um menino, mas o herói do irmão de seis anos, depois de um afogamento em uma fazenda às margens da BR-060, no Residencial Santa Fé, em Goiânia.
Além de Gabriel, outras três crianças brincavam na represa particular da propriedade. Não fazia sol. O céu com nuvens despencando, anunciando chuva que derrubaria árvores e faria a família de Gabriel enterrá-lo com o céu prestes a despencar em chuva nesta sexta-feira.
Os meninos brincavam afoitos, rindo, crianças, quando o irmão de Gabriel afundou na água escura e muito fria. Gabriel lutou contra a força da água. Salvou o irmão e o levou para a margem. Quando ia subir o barranco, afundou e voltou à margem.
Mas, a força da natureza, o levou para o fundo novamente. Nos barrancos, os meninos mais novos, atônitos, desesperados, viam o amigo afundando de vez e ressurgindo depois, sem vida.
Ao contrário dos risos, o choro inconsolável. É uma dor que se repetiu três vezes esta semana em Goiás. O domingo (14/10) terminou em desgraça para David Gabriel Barros Souza, de seis anos, no Clube Jaó, em Goiânia. É Gabriel também que foi visto no fundo de uma piscina, sem vida.
Na terça-feira (16/10), outro Gabriel, de seis anos, não resistiu à tragédia dentro de uma piscina. Gabriel Conceição de Almeida brincava na piscina de casa, na zona rural de Luziânia, em Goiás, quando se afogou e morreu.
Gabriel do Residencial Santa Fé, em Goiânia
Segundo o tenente que atendeu a ocorrência, Gabriel Rodrigues e os meninos moravam próximo à represa e saíram de casa escondidos da tia. Para encontrar o corpo do menino, a corporação contou com três mergulhadores.
Eles mergulharam por 15 minutos. Mergulharam, não para encontrar o corpo de um menino morto, mas um menino vivo, que salva o irmão. Um menino com sonhos e não um menino sem futuro.
Ninguém consegue imaginar o que se passa pelo coração de um desses mergulhadores ao reconhecer um Gabriel sem vida a quatro metros de profundidade, perdido em meio à lama.
Mesmo com os lábios roxos, o menino foi colocados às margens do lago. A equipe de bombeiros tentou reanimá-lo. Mas restou um Gabriel herói. E o irmão, e os coleguinhas por ali, desamparados.
Depois, a história de repete, como aconteceu com David Gabriel, com Gabriel Conceição: O Instituto Médico Legal, a autópsia, a funerária, o funeral, e a despedidas.
Restou um post na página da Escola Municipal João Vieira da Paixão, onde Gabriel Rodrigues cursava a turma H2, no matutino. “Nossa escola está de luto. Infelizmente veio a óbito o nosso aluno Gabriel Rodrigues dos Santos. Nossos sentimentos à família, amigos, colegas e todos aqueles que nesse momento se entristecem com essa partida tão precoce.”