Será uma Mostra de grandes comemorações – 20 anos de Central do Brasil, de Walter Salles; 30 anos de Asas do Desejo, de Wim Wenders, e Feliz Ano Velho, de Roberto Gervitz; 50 anos de O Bandido da Luz Vermelha, de Rogério Sganzerla, e O Bravo Guerreiro, de Gustavo Dahl; 200 anos de Karl Marx, com vários filmes. E a 42ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, que começa nesta quarta, 17, para convidados, com o filme A Favorita, de Yorgos Lanthimos, trará todo o ouro do mundo, os vencedores de Cannes (Assunto de Família, de Hirokazu Kore-eda); Berlim (Não Me Toque, de Adina Pintilie); Locarno (Uma Terra Imaginada, de Siew Hua Yeo); e Veneza (Roma, de Alfonso Cuarón).
No total, serão 300 filmes, em 31 pontos de exibição – 70 brasileiros e 30 latino-americanos. Como sempre, a Mostra dá a volta ao mundo e abre uma janela para que o cinéfilo descubra as novas tendências do cinema mundial. O compromisso do evento com o novo leva à suprema inovação – um aplicativo que, além de trazer a programação completa e atualizada, com notícias da Mostra em tempo real, também permitirá as compras de credenciais digitais, a compra de ingressos (ou a reserva para credenciados).
Para o cinéfilo que só quer ver filmes, a oferta é tão variada quanto impressionante. Mas Renata de Almeida, que organiza a festa, observa. Desde o cartaz de Laurie Anderson, que inspira a vinheta e uma grande exposição em realidade virtual, Chalkroom, no anexo do Cinesesc – outra novidade -, a Mostra deste ano tem um compromisso muito forte com a palavra. Não por acaso, Jean-Luc Godard, que segue revolucionário – da linguagem – aos 87 anos, participa da seleção com Imagem e Palavra. Em parceria com o Spcine e o Cinema do Brasil, deverá ocorrer pela primeira vez o Mercado de Ideias Audiovisuais e, pela segunda, o Fórum Mostra. É importante discutir – as novas tendências e o estado do Brasil e do mundo.
Como contribuição ao debate sobre o ódio que nos dilacera, Spike Lee propõe Infiltrado na Klan, e o filme, que evoca os anos 1970, chega no desfecho a 2017 e aos eventos sangrentos de Charlottesville, que expõem a era Donald Trump. A política e o ódio atravessam a programação com Amos Gitai (Carta para um Amigo em Gaza) e Lars Von Trier (A Casa Que Jack Construiu). Nem com toda a boa vontade do mundo você conseguirá assistir a todos os 300 filmes anunciados. Talvez uns 10%, ou 5%. Mas existem obras que são essenciais, viscerais (abaixo). Como contribuição para um mundo melhor, a Mostra segue com suas premiações honorárias. O prêmio Humanidade de 2018 será atribuído ao japonês Kore-eda e ao brasileiro Drauzio Varella. O iraniano Jafar Panahi, confinado em seu país, será homenageado com a exibição de seu (talvez) melhor filme, 3 Faces, e com o Prêmio Leon Cakoff.
PRECIOSIDADES PARA CINÉFILOS
A Árvore dos Frutos Selvagens
O júri de Cannes preferiu Hirokazu Kore-eda, mas o turco Nuri Bilge Ceylan tocou de novo a obra-prima. Uma família, o filho pródigo. Ele é tão revoltado que recorre a dois imames para tentar entender o pensamento do Profeta.
Domingo
Na ficção de Fellipe Barbosa e Clara Linhart, Lula é candidato em 2003, mas é difícil não pensar no Brasil de 2018.
Guerra Fria
O polonês Pawel Pawlikowski, de Ida, inspira-se em seu pai e sua mãe para contar a história de um casal que não consegue viver junto nem separado.
Como Fernando Pessoa Salvou Portugal
Uma joia de curta-metragem de Eugène Green. O belo Carloto Cotta, como o poeta, salva seu país da ditadura do mercado.
Imagem e Palavra
Godard e o estado do cinema em 2018. Sob os olhos do Ocidente, o mundo árabe, a guerra, os paraísos perdidos.
Infiltrado na Klan
Policial negro cria persona (branca) para se infiltrar na Klu Klux Klan, e Spike Lee expõe o racismo na América.
Leto/Verão
Triângulo amoroso sobre fundo de rock na perestroika. O diretor Kirill Serebrennikov está preso sem prova na Rússia.
Trem das Vidas
Um só ângulo dentro de um vagão, as viagens de Angélica. De Paul Vecchiali, uma mulher face à vida, o amor, a morte.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.