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Rubi Delafuente foi vítima de preconceitos por ser uma mulher transexual. Foi rejeitada pela família. Já se prostituiu por falta de oportunidades no mercado de trabalho – e decidiu que não queria mais que homens e mulheres trans fossem vítimas, entre outras coisas, do desemprego.
Por isso, há um ano, criou o projeto Trans Missão, em São Paulo, com o objetivo de capacitar pessoas trans e inseri-las no mercado. Mais de 50 homens e mulheres foram agenciados desde então. No currículo da empresa, estão eventos para a Casa Natura Musical, Über e Vodka Skyy.
“Para mim é muito prazeroso quando eu fecho o negócio. Quando a gente chega no evento, eles saem com uma visão diferente do que é ser transexual: de que a gente também precisa pagar as nossas contas, trabalhar, e viver como qualquer outra pessoa. Essa oportunidade que eu não tive, lá no início, eu quis trazer para elas”, conta a também militante, em tom de satisfação.
A ideia, segundo Rubi, surgiu quando, durante uma seleção para uma figuração de TV, percebeu que não havia uma equipe trans. “Notei que sempre trabalhavam com equipes heteronormativas. Me questionei: se eu montar uma equipe trans, será que vai dar certo?”.
Após o estopim inicial, elencou atividades que gostaria de oferecer: recepção de eventos, serviços em bares itinerantes, limpeza. “Veio na minha cabeça que poderíamos fazer de tudo!”, diz. Para os eventos, os agenciados passam por capacitação e, no intuito de gerar rotatividade, dificilmente os trabalhos são fixos.
Certa vez, discutiu com uma contratante, quando, ao se encontrarem em um café, recebeu olhares com estranhamento. A representante da empresa não havia sido informada que a Trans Missão agenciava pessoas transexuais.
“Ela disse que a empresa, infelizmente, procurava um padrão. Eu falei: ô, meu amor, o importante é você passar essa imagem para a sua empresa, de que tem que desconstruir padrões. Começar a ir além, trabalhar a empatia. Mostrar que as pessoas trans trabalham”, relembra. Após três encontros: negócio fechado.
A transexualidade e a prostituição
A história de Rubi, vira e mexe se esbarra na de pessoas que trabalham com ela. De acordo com a dirigente da Trans Missão, a vida na prostituição é muito mais comum na comunidade trans, com destaque para o gênero feminino. “As meninas pensam que não sabem fazer nada, só se prostituir. Mas é o que a sociedade joga para elas”, defende.
“Não tenho vergonha de dizer pra ninguém que fui prostituta. Isso faz parte da minha história. E, se eu tiver que voltar, voltarei. Meu corpo, minhas regras. Entendi que a partir do momento em que a gente tem isso separado na cabeça da gente, não ofendendo ninguém, a gente pode sim”, acrescenta, ao criticar o título que o Brasil carrega de ser o maior consumidor de conteúdo pornográfico trans do mundo no site Redtube. Simultaneamente, é o país que mais mata. “Isso é uma coisa muito louca”, critica.
Aos 17 anos, Rubi se descobriu mulher. Aos 33 anos, se diz feliz não só por sua autodescoberta, mas pelas oportunidades que a vida lhe deu. “Como empresária e mulher transexual me sinto super realizada. Não só por estar me ajudando como por ajudar os meus. Porque a minha dor é a dor dos meus meninos e das minhas meninas”