Se a atenção das crianças anda cada vez mais dividida, pelo excesso de estímulos existentes hoje, a arte ainda se mantém como um universo rico e cheio de possibilidades para o desenvolvimento da imaginação e da sensibilidade. Em São Paulo, iniciativas em museus de diferentes estilos mostram que esse contato com obras de arte pode ser estimulado de maneira, acima de tudo, divertida e prazerosa.
Por isso, aproveitamos o Dia da Criança, comemorado nesta sexta-feira, 12, para destacar uma série de atividades promovidas por seis museus da capital. Além de apresentar um roteiro com programas que podem ser feitos já neste feriado prolongado, conversamos com duas especialistas na área – a educadora, curadora e escritora Valquíria Prates e a escritora, artista e curadora Katia Canton.
Para tornar o passeio ainda mais proveitoso, apresentamos algumas dicas dadas por elas – que vão desde como a família pode explicar à criança a lógica dos museus, despertando curiosidade em relação a esses espaços, passando por como estabelecer diálogos entre a vida dos pequenos e os objetos das exposições, até como tornar a tecnologia uma aliada nessas ocasiões.
Na Pinacoteca, o projeto gratuito PinaFamília, que ocorre no segundo domingo de cada mês, propõe uma série de atividades lúdicas ligadas a elementos artísticos como escala, textura e tom. Em outubro, não será diferente – neste domingo, 14, das 11h às 15h, será possível aproveitar essas atrações e, depois, às 15h, ainda assistir ao espetáculo ‘PinaCanção’, em que seu criador, Hélio Ziskind, articula música e imagens (retirar ingresso a partir das 14h30).
Além de materiais educativos sobre mostras temporárias, o museu tem sempre para empréstimo, na recepção, jogos como quebra-cabeças e dominós, com temas baseados nas obras da coleção. Valquíria Prates salienta que os próprios pais podem instigar as crianças, usando, inclusive, a tecnologia. Ela sugere, por exemplo, desafios temáticos para a criança encontrar e fotografar determinados tipos de obras de uma exposição. Pça. da Luz, 2, metrô Luz, 3324-1000. 10h/18h (fecha 3ª). R$ 6 (sáb., grátis).
“Os museus são espaços que promovem uma suspensão do tempo, sem toda aquela pressa existente lá fora. Entrar em um museu é um respiro, e essa possibilidade é um presente para as crianças hoje.” (Katia Canton)
Todos os sábados, das 14h às 16h, até 10/11, o Museu de Arte Sacra vai promover a Oficina de Arqueologia, que convida crianças a desvendar seu acervo e participar de uma simulação de escavação de sítio arqueológico, no jardim do Mosteiro da Luz (inscrições pelo site: www.museude artesacra.org.br). A atividade também propõe que os pequenos descubram aspectos como os hábitos dos antigos usuários do espaço onde o museu está instalado.
E vale sempre ficar de olho na programação: esporádica, a atividade Interessante e Interativo estimula um olhar lúdico para o acervo e o edifício. “Ao buscar visitar museus de diferentes tipos, podemos chamar a atenção das crianças para as semelhanças e diferenças entre coleções e programações, arquiteturas e mobiliários, além das regras de uso de cada lugar”, avalia Valquíria. Av. Tiradentes, 676, metrô Tiradentes, 3326-3336. 9h/17h (fecha 2ª). R$ 6 (sáb., grátis).
“Os adultos que acompanham as crianças em exposições podem aproveitar o passeio para conversar com elas de igual para igual, embarcar em suas fantasias, perguntas, suposições, formulações.” (Valquíria Prates)
Para Katia Canton, a arte tem o poder de expandir os potenciais criativos das crianças – e a aproximação com experiências pessoais é fundamental para a relação delas com a obra. Um incentivo para isso pode ser a atividade Lugar de Criação, no CCBB, todo sábado e domingo, às 10h e às 14h.
Por conta do Dia da Criança, o projeto tem ainda uma sessão extra, 6ª (12), nos mesmos horários. Nesta semana, o programa convida os participantes a usar memórias afetivas para produzir desenhos sobre azulejos, inspirados na exposição de Athos Bulcão. E, de 6ª (12) a domingo (14), às 12h e às 17h, tem visita com contação de histórias sobre os deuses retratados na arquitetura do edifício. R. Álvares Penteado, 112, Centro, 3113-3651. 9h/21h (fecha 3ª). Grátis.
Na Casa Mário de Andrade, não há programação fixa para os pequenos, mas o espaço recebe visitas espontâneas de grupos de até oito pessoas, que são convidados pelos educadores a conhecer ativamente o acervo, bem como a história da casa e do escritor. Para o Dia da Criança, o museu realiza 6ª (12), das 14h30 às 15h30, a atividade Caça-detalhes na Casa Mário.
Em uma visita lúdica, crianças de até 6 anos poderão explorar detalhes da edificação e também objetos das exposições (atualmente, está em cartaz a mostra Morada do Coração Perdido). Ah, e Katia dá uma dica importante para as famílias – não fazer da ida ao museu uma atividade dirigida. Segundo ela, a criança tem de sentir a experiência como algo livre e prazeroso. “Senão, vira só mais uma atividade que ela tem a obrigação de fazer”, complementa a educadora. R. Lopes Chaves, 546, Barra Funda, 3666-5803. 10h/18h (fecha dom. e 2ª). Grátis.
“É importante não impor uma leitura técnica da arte. A liberdade é o que promove a empatia da criança com a obra – que deve surgir com naturalidade, na relação com as experiências de sua própria vida.” (Katia Canton)
O Instituto Moreira Salles promove, esporadicamente, oficinas de fotografia voltadas ao público infantil. Neste domingo (14), às 15h, uma delas (retirar senha uma hora antes) convida crianças maiores de 7 anos a fazer experimentações com contraste – com a técnica de light painting, elas poderão criar uma narrativa coletiva.
Para grandes exposições – como a de Irving Penn, em cartaz no local até 18/11 -, tanto Valquíria quanto Kátia sugerem que as famílias façam uma seleção de obras para apresentar aos pequenos, em vez de querer mostrar tudo em uma só visita. Um dos núcleos da mostra no IMS traz retratos de diferentes trabalhadores. Que tal apostar nesta seção e desafiá-los a adivinhar a profissão de cada um? Av. Paulista, 2.424, metrô Paulista, 2842-9120. 10h/20h (5ª, 10h/22h; fecha 2ª). Grátis.
Entre as atrações do MAC USP, o programa mensal Interar-te: Famílias no Museu envolve crianças e seus acompanhantes em atividades inspiradas por obras e exposições do local. A próxima edição, marcada para 20/10, das 10h30 às 12h30 (inscrições 30 min. antes), convida maiores de 6 anos a pensar em mobilidade urbana a partir de uma obra de Eduardo Srur. Em oficina, eles poderão confeccionar carimbos representando meios de transporte.
Outra atividade infantil mensal propõe discussões sobre história da arte, destacando a vida e a produção dos artistas. Sobre espaços como o MAC, que guardam obras abstratas e conceituais, Valquíria avalia que esses aspectos podem ser um “bicho-papão” para muitos adultos, mas que crianças lidam com eles com “muita naturalidade”. Av. Pedro Álvares Cabral, 1.301, Ibirapuera, 2648-0254. 10h/21h (fecha 2ª). Grátis.
“A tentação de querer explicar tudo o que integra um museu precisa ser superada pelos adultos que acompanham crianças, pois, do contrário, pode parecer tudo muito chato e demorado.” (Valquíria Prates)
E tem mais atrações por aí
Educadores do Museu Afro Brasil conduzem as crianças, no sábado (13), às 15h, pela mostra de longa duração, abordando também a história do Parque Ibirapuera. Av. Pedro Álvares Cabral, s/nº, portão 10, 3320-8900. Grátis (inscrições: bit.ly/mafr18).
Nos sábados e domingos de outubro, às 11h, o Museu da Imigração, que inaugura 6ª (12) a mostra Infância Refugiada, da fotógrafa Karine Garcêz, promove visitas temáticas em torno do tema. R. Visconde de Parnaíba, 1.316, Mooca, 2692-1866. Grátis.
No sábado (13), das 15h às 16h, uma atividade na Casa Guilherme de Almeida convida crianças de até 3 anos (e seus familiares) a explorar cheiros, texturas e cores de seu quintal. R. Macapá, 187, Perdizes, 3673-1883. Grátis (inscrições: bit.ly/csguial).
A 33ª Bienal de São Paulo realiza visitas guiadas para crianças entre 2 e 6 anos nos sábados, às 11h30 e às 15h, e 6ª (12), às 10h, 12h, 15h e 17h. Pavilhão da Bienal. Pq. Ibirapuera. Av. Pedro Álvares Cabral, s/nº, portão 3, 5576-7600. Grátis. Até 9/12.