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Em ‘Coração Azedo’, Jenny Zhang faz um retrato Franco da imigração

Por Estadão Conteúdo
Publicado em 06/10/2018 às 07:10
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Donald Trump ainda não estava no poder, com suas ideias anti-imigrantes, mas os contos de Coração Azedo revelam como sempre foi difícil a rotina de desterrados na sonhada América – no caso, os percalços sofridos por famílias que abandonaram a vida complicada na China e em Taiwan para enfrentar outra não menos sofrida e complicada em Nova York, nos anos 1990. Escrito pela sino-americana Jenny Zhang, o livro foi eleito um dos melhores de 2017 pela revista The New Yorker e o jornal britânico The Guardian. Motivo: com equilíbrio e sensibilidade, Jenny (que nasceu em Xangai e cresceu em Nova York) expõe o confronto entre duas culturas tão distintas, obrigadas a conviver sob o mesmo teto.

“Supõe-se que lar seja um lugar em que todos os ‘eus’ de uma pessoa possam existir ao mesmo tempo, um lugar com o qual a pessoa se identifique e no qual se sinta conhecida. Mas, e quando o ‘eu’ está muito fragmentado?”, questiona-se Jenny, em entrevista por e-mail ao Estado. Aos 35 anos, a escritora vale-se de sua habilidade literária para observar com precisão uma dupla dificuldade: o de ser estrangeiro em uma terra que não é a sua e o fato de ser mulher, em uma cultura tão tradicional como a chinesa. Seus contos, portanto, traduzem essa inquietação, seja na história da menina tentando entender o papel da avó na Revolução Cultural, seja o dilema da filha em vencer o limite que separa sua liberdade daquela imposta pela família. Sobre o assunto, Jenney respondeu às questões.

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Por que ambienta suas histórias em Nova York?

As garotas dessas histórias vivem muito em casa, com persianas abaixadas e portas trancadas. Seus pais passaram a maior parte da infância vagando pelas ruas de Xangai durante a Revolução Cultural – uma época em que, no caos reinante, os pais tinham pouco controle sobre os filhos. Depois, já como imigrantes nos EUA, ensinaram as filhas a ter medo de tudo. Há algo de pungente e triste em viver numa das maiores e mais selvagens cidades dos EUA, Nova York, a cidade que nunca dorme, onde todos são ao mesmo tempo sonhadores e sacanas e há sempre um milhão de coisas para se fazer – e ter tanto medo de deixar as filhas saírem de casa. Olhar Nova York através da cortina é sentir-se num mundo excitante, mas difuso e fora de alcance.

Muitos contos do livro são sobre vidas divididas: nos EUA, as garotas são chinesas demais, mas, na China, não são chinesas o suficiente. Por que o lar é efêmero?

Supõe-se que lar seja um lugar em que todos os “eus” de uma pessoa possam existir ao mesmo tempo, um lugar com o qual a pessoa se identifique e no qual se sinta conhecida. Mas, e quando o “eu” está muito fragmentado? E se a pessoa teve de se mudar várias vezes de casa? O coração fica na primeira casa ou vai com ela para as casas subsequentes? É confuso para alguém se ver por fora de modo tão diferente do que é por dentro. A pessoa pode se transformar num sem-teto espiritual, num eterno desgarrado que vive limitado por fronteiras difusas.

Como assim?

As garotas querem fazer parte “da turma”, pois são adolescentes e nessa idade (e provavelmente pelo resto da vida) todos procuram sua tribo. Mas tornarem-se americanas completas pode significar terem de rejeitar a parte chinesa, distanciar-se dos pais e do restante da família que ficou na China. Talvez o que eu disse acima – que o lar deveria ser um lugar em que todos nossos “eus” sintam-se em casa – seja um mito. Talvez o máximo que se possa esperar de um lar é que seja o lugar em que possamos ser a maior parte de nós mesmos, sem termos de fingir.

Um imigrante pode se integrar totalmente à vida americana?

Às vezes, acredito que forçamos muito o imigrante a integrar-se à cultura dominante no país no qual ele foi viver e levá-lo a assumir que essa cultura está consolidada e é imutável; que ela não está sujeita à influência externa; que não deveria ser “contaminada”. Mas a ideia de que a cultura dominante nos EUA seja sinônimo de “cultura branca” é bastante recente. Os EUA eram diferentes há 50, 100 anos e, certamente, há mil anos. Toda fronteira esconde a violência que foi usada para criá-la e mantê-la. Existe um fascínio em relação ao imigrante porque ele faz balançar a ideia de uma identidade nacional estável, de fronteiras inquestionáveis.

Muitos personagens de Coração Azedo falam palavrão e discutem sexo cruamente. Que papel têm a linguagem obscena e a gíria em suas histórias?

Quando você é jovem, pode se sentir simultaneamente fraco e poderoso. Você se sente fraco quando é criança e depende dos adultos para segurança, abrigo e alimentação e ainda está tentando descobrir como é o mundo; sente-se forte quando acredita que tudo seja possível, que o mundo está a seu alcance. Acho que as crianças que se sentem mais fracas procuram se aproximar do poder flertando com o proibido, o profano, o obsceno. As crianças também estão profundamente conectadas a seus corpos, uma conexão que vai se modificando à medida que ficam mais velhas. Eu quis escrever sobre crianças que estão crescendo, com seus corpos mudando e ainda vulneráveis. Não faz sentido evitar escrever sobre o corpo. Vivemos numa sociedade obcecada por corpos de mulheres jovens, mas no momento em que uma mulher de verdade fala de seu corpo de modo explícito ela é considerada vulgar.

O que pensa sobre o movimento #MeToo? É essa revolução que você gostaria de ver?

Gostaria de ver uma revolução que pregasse que sexo, amor e relacionamentos não são baseados em dominação e subjugo. Não acredito que as velhas estruturas já tenham sido destroçadas. Há uma insegurança crescente quando estruturas de poder são expostas exatamente como são – violentas, arraigadas, complexas – e estamos vivenciando isso hoje. Todos querem soluções rápidas, respostas definitivas e Justiça punitiva, mas eu me inspiro mais em líderes do #MeToo que pressionam por algo ainda mais radical e transformador, algo não baseado em retribuição, mas em Justiça realmente restauradora.

David Sloan Wilson, em seu ensaio Evolutionary Social Construction, assinala que estamos constantemente nos construindo e reconstruindo para enfrentar as situações que enfrentamos.

Não li o ensaio, mas concordo que a memória tenha grande influência em nossa formação. Os personagens de meu livro carregam o peso de suas memórias e das memórias das gerações que os precederam – acho que podemos considerar isso uma espécie de ‘memória do sangue’. O trauma da ascendência pesa decisivamente em meus personagens e em certo sentido limita o modo como imaginam o futuro, acreditando que ele esteja sempre sufocado pelas dores do passado.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Tags: entrevistajenny zhangliteratura

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