O ex-diretor da Dersa Paulo Vieira de Souza, emblemático personagem de governos do PSDB ligado a políticos do partido, foi interrogado nesta terça-feira, 2, por cerca de 3 horas, na Justiça Federal de São Paulo. De tornozeleira eletrônica na perna direita, após ordem do Supremo, o engenheiro se comparou ao ex-presidente Lula, reclamou da mídia, do período em que ficou preso em regime fechado, no qual se disse humilhado, e negou ameaças a testemunhas do processo em que é acusado por supostos desvios de R$ 7,7 milhões da Desenvolvimento Rodoviário S/A, companhia que toca grandes empreendimentos do governo paulista, como o Rodoanel.
“Eu nunca ameacei ninguém na minha vida. Não sou nenhum santo, não, mas jamais cometi fraude, corrupção ou algum roubo.”
Paulo Vieira disse que é “alvo da mídia, que não tem mais ninguém em São Paulo”.
“Tem o Lula lá e eu aqui. Lula foi preso, eu fui preso. Lula vai depor, eu vou depor”, declarou.
O executivo é acusado na ação sobre supostos desvios no âmbito de desapropriações do trecho Sul do Rodoanel. A investigação é da força-tarefa da Operação Lava Jato, em São Paulo.
A denúncia criminal alcança outros quatro investigados, todos acusados de desvios em proveito próprio e de terceiros, entre 2009 e 2011.
O montante global foi de R$ 7,7 milhões (valores da época) em recursos e imóveis destinados ao reassentamento desalojados por grandes obras da Dersa na região metropolitana de São Paulo – o trecho sul do Rodoanel, o prolongamento da avenida Jacu Pêssego e a Nova Marginal Tietê.
Ao todo, quase 1.800 pessoas foram inseridas indevidamente nos programas de reassentamento das três grandes obras pela quadrilha liderada por Paulo Vieira de Souza. Algumas dessas pessoas receberam indevidamente auxílios, indenizações ou apartamentos da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo), empresa parceira da Dersa nos reassentamentos.
Paulo Vieira foi questionado sobre a inclusão de pessoas próximas a ele no cadastro. O engenheiro contestou não haver um levantamento sobre todas as pessoas que foram incluídas de 2007 a 2011.
“Lá deve ter empregada de ministro, de procurador, de empresário, de médico, de dentista”, disse.
A acusação aponta que o ex-diretor comandava o esquema. Os investigados são suspeitos de formação de quadrilha, peculato e inserção de dados falsos em sistema público de informação.
Na audiência, conduzida pela juíza Maria Isabel do Prado, da 5.ª Vara Criminal Federal, Paulo Vieira se emocionou ao falar da filha, a psicanalista Tatiana Cremonini, também ré no processo.
“Minha filha ser presa foi um negócio para me arrebentar”, disse.