Num momento em que São Paulo recebe a exposição Mulheres Radicais: Arte Latino-Americana, 1960-1985, na Pinacoteca do Estado, que resgata a produção de artistas consagradas e também de nomes tão conhecidos de vários países, incluindo o Brasil, as artistas femininas ganham força ainda com a inauguração de uma galeria exclusiva para mulheres na capital paulista. A Supernova, no Morumbi, estreia já com uma exposição, intitulada Andrômeda, neste domingo, 30.
Idealizada pela marchande Camila Siufi, a galeria é fruto de uma tendência mundial. “É um nicho de mercado muito específico, porém em desenvolvimento. Percebi isso tanto na Inglaterra quanto nos EUA”, afirma Camila, que já estuda, inclusive, a possibilidade de abrir uma filial fora do País. Siufi, que já estava buscando abrir seu próprio negócio, após passar mais de 10 anos como sócia do pai em outra galeria de arte, decidiu investir na área. “Pesquisei e não vi, no Brasil, nenhuma galeria segmentada, só coletivos de artistas, sem um trabalho de marchande direcionado.”
A inspiração da galerista veio do trabalho das Guerrilla Girls, grupo feminista que faz críticas ao machismo no mundo das artes. “Eu sempre olhava os acervos de museus e sabia que tinha alguma coisa faltando, mas não era tão óbvio. Todos os grandes acervos são estabelecidos com um número muito maior de nomes masculinos.” A marchande cita ainda exemplos de grande artistas femininas que, porém, não são tão conhecidas pelo público menos especializado, como Camille Claudel e Yayoi Kusama. Outra inspiração, do lado mais comercial, veio do trabalho histórico da grande colecionadora americana Peggy Guggenheim.
Apesar de ser uma galeria, Siufi quer que a Supernova seja aberta ao público, mesmo para quem não tenha intenção de compra. “As galerias de arte dão um certo receio no público: ‘Se não vou comprar, o que vou fazer lá'”, acredita. “As pessoas podem vir aqui, marcar grupos e visitas escolares.” Por uma questão de segurança, apenas, as visitas precisam ser agendadas por e-mail. E para quem estiver interessado em adquirir obras, o site da galeria já informa os preços das obras. Segundo Camila, é um desejo por “transparência” e para incentivar novos colecionadores. “Todas as obras estão lá e são registradas num banco de dados global.”
Para todas. A exposição de abertura é separada por artistas, para apresentar um pouco dos nomes trazidos pela galeria. Exclusivamente, a Supernova vai representar três mulheres, Mitiko Aragaki, Ana Uzêda e Igi Ayedun. Ana Goldberger, Anna Guerra, Fernanda Victorello e Seleide Roque também possuem trabalhos na mostra inaugural. “Quando falei sobre a galeria para as pessoas, percebi um grande entusiasmo. O mundo está mudando e nós, mulheres, precisamos lutar pelos nossos direitos e pelo nosso espaço”, diz Ana Uzêda. A artista, que tem um histórico de colecionadora, começou seu trabalho há pouco tempo e escolheu a galeria tanto pela proposta como por já ter comprado com Camila.
Para Siufi, o desejo é que a galeria Supernova seja um espaço de diversidade para as mulheres. Por isso, a lista de artistas incluem algumas mulheres trans. “Quando pensei o conceito da galeria, quis abranger todas as que se consideram mulheres dentro de si. Não é um documento de identidade que vai determinar o que a pessoa é.” A marchande está numa busca não só por artistas trans, mas também por mais artistas negras para o seu catálogo. A ideia é fazer algumas exposições temáticas em breve.
Uma das mostras será a estreia de uma das apostas de Camila, a artista Kika Ortiz. Conhecida por seu trabalho com maquiagem artística, ela está preparando para o seu debute no mundo das artes, esculturas e intervenções. “Desde criança eu sempre gostei de desenhar e pintar e fui autodidata na maquiagem”, explica a artista. Para ela, é importante ver a abertura de espaço para artistas trans. “Tem muita gente com o dom escondido, por restrição ou até medo.”
ANDRÔMEDA
Supernova. R. Barão de Campos Gerais, 538. Visitas com agendamento pelo e-mail [email protected]. Até 30/11.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.