O líder do Partido Trabalhista (Labour) do Reino Unido, Jeremy Corbyn, afirmou nesta quarta-feira, 26, que a legenda votará contra um acordo de separação da União Europeia nos termos atuais da negociação. Além disso, o socialista confirmou que os trabalhistas farão pressão nas ruas pela convocação de um novo referendo sobre o Brexit uma vez que não haja acordo entre Londres e Bruxelas.
A manifestação amplia a pressão sobre o governo de Theresa May, que terá de ceder ainda mais aos interesses da UE se quiser assegurar um entendimento, e com isso garantir a sobrevida de seu governo e dos defensores do divórcio.
O esperado discurso de Corbyn, que durou mais de uma hora, foi realizado no encerramento da conferência anual do Partido Trabalhista hoje, em Liverpool, e encerra dois anos de ambivalência da legenda sobre o Brexit. Até aqui o Labour evitava o tema porque 37% de seus eleitores habituais havia optado pela ruptura dos laços entre Londres e Bruxelas. Mas, com sucessivos estudos indicando que o impacto da separação pode ser ruim para a economia, sindicatos ligados ao partido passaram a pressionar pela adoção de uma postura clara em favor de um novo referendo.
A posição final, que será defendida por Corbyn, é mais delicada. Em seu discurso, o líder trabalhista não conclamou os britânicos a lutarem por uma nova votação sobre o Brexit, mas deixou essa ameaça subjacente. Em lugar disso, afirmou que o partido pressionará pela realização de eleições antecipadas se as negociações em curso entre Londres e Bruxelas fracassarem, ou resultarem em um acordo considerado ruim – como a proposta atual ainda em discussão. Corbyn foi ainda além e disse que trabalhará pelo fracasso do acordo, levando a bancada do partido no Parlamento a votar contra o projeto de divórcio defendido pela primeira-ministra, Theresa May.
“Depois de dois anos de negociações, Theresa May ameaça impor ao país uma escolha única: um mau acordo ou nenhum acordo”, disse Corbyn, argumentando que a proposta atual destruirá “dezenas de milhares de empregos”. “Se vocês não forem capazes de negociar um acordo que proteja o emprego e os direitos dos assalariados e consumidores, então abram caminho a um partido que possa fazê-lo.”
A decisão do Labour de votar contra o plano de “Brexit suave” de Theresa May coloca em risco o mandato da premiê. Isso porque deputados da linha dura do Partido Conservador, favoráveis a um “Brexit duro”, sem acordo com a UE, também manifestam interesse no fracasso da negociação. Por outro lado, a ala moderada e pró-Europa do partido tende a apoiar a realização de um novo referendo.
Para Jolyon Howorth, professor emérito de Políticas Europeias da Universidade de Bath, Theresa May está ficando sem opções, já que sua proposta de acordo foi recusada até aqui pela UE e agora enfrentará grande resistência no Parlamento. “Theresa May não tem mais alternativa agora. Como líder do país e pessoa mais interessada em buscar uma solução positiva, ela deve admitir a verdade ao povo britânico: o Brexit foi um erro”, entende o acadêmico, que vê os interesses de Londres e Bruxelas como incompatíveis nas discussões em curso. “Não haverá resultado positivo nas negociações que responda às exigências das duas partes.”
A hipótese de fracasso das negociações também vem sendo cada vez mais cogitada em Bruxelas. Hoje, um documento de trabalho distribuído a diplomatas indicou que a Comissão Europeia acelerou os trabalhos sobre o cenário de encerramento das negociações sem acordo – até aqui considerado a pior hipótese possível.