Faltando pouco mais de duas semanas para o primeiro turno das eleições, o Banco Central manteve a Selic (os juros básicos da economia) em 6,5% ao ano. Mas indicou claramente, sem mencionar as eleições, que a Selic pode começar a subir se o cenário econômico piorar. A decisão de quarta-feira, 19, foi a última antes da escolha do próximo presidente da República, em outubro, e representa a quarta manutenção consecutiva da taxa nesse patamar.
Para os próximos meses, o BC acenou pela primeira vez com a possibilidade de alta gradual dos juros. Em comunicado, a instituição lembrou que a atual conjuntura justifica uma taxa que estimule a atividade, mas o quadro poderá mudar. “Esse estímulo começará a ser removido gradualmente caso o cenário prospectivo para a inflação e/ou seu balanço de riscos apresentem piora”, diz o texto.
A manutenção dos juros no menor patamar desde que a Selic foi criada, em 1996, era largamente esperada pelo mercado financeiro. Todas as 69 instituições consultadas pelo Projeções Broadcast indicavam essa estabilidade. Para o fim do ano, no entanto, já surgem apostas de elevação, para até 7,5%.
Para os economistas, nem mesmo a alta recente do dólar – que subiu cerca de 10% desde o início de agosto – justificaria subida do juro neste momento. O risco mencionado pelo BC foi interpretado pelos investidores como a eleição de um presidente que não transmita confiança. Tudo vai depender, principalmente, da sinalização sobre o que será feito na economia. Um presidente pouco comprometido com as reformas fiscais – em especial, a da Previdência – pode dar novo impulso ao dólar e elevar as previsões para a inflação futura.
O ex-presidente do BC e diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getúlio Vargas, Carlos Langoni, elogiou o tom adotado pelo Copom. “É muito bom não aumentar a taxa de juro às vésperas de uma eleição já tão tensa e disputada. Isso dá tranquilidade ao mercado”, disse, ao lembrar que a inflação segue bem comportada e, antes de qualquer movimento, é preciso saber quem será o novo presidente. “Se o novo governo for responsável, o BC ganhará mais tempo”.
O economista-chefe do Santander Brasil, Maurício Molan, nota que a menção feita pelo BC de um aperto monetário gradual “afasta o risco de um choque de juros” à frente. Entre os riscos a serem monitorados, o economista ressalta que a subida do dólar “está próxima do limite de desencadear alta dos juros” e, por isso, o BC deverá avaliar a persistência do câmbio no atual patamar.
A próxima decisão sobre o juro ocorrerá em 31 de outubro, três dias após o segundo turno. Outra reunião está prevista para dezembro.
Inflação
Por enquanto, o BC ainda enxerga um cenário favorável para os preços. Na quarta, a instituição reduziu de 4,2% para 4,1% a projeção de inflação em 2018. No caso de 2019, o índice subiu ligeiramente, de 3,8% para 4,0%. Os dois números ainda estão abaixo do centro da meta, que é de 4,5% neste ano e 4,25% em 2019. Nos dois casos, há uma margem de tolerância de 1,5 ponto.
Embora a Selic esteja no nível mais baixo da história, a taxa de juros real (descontada a inflação) do Brasil é a quinta maior do mundo. Ranking elaborado pela Infinity Asset Management e pelo site MoneYou indica que o juro real brasileiro está em 4,00% ao ano. Taxas reais mais elevadas somente são registradas na Argentina (18,20%), na Turquia (13,93%) e na Rússia (6,01%), considerando o conjunto das 40 economias mais relevantes do planeta. (COLABOROU EDUARDO LAGUNA). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.