Depois que o filho de Joaquim Ferreira Campos, 50 anos, desapareceu em Goiânia, ele não sabe mais o que fazer. O filho dele, Wesley Ferreira dos Santos, de 14 anos, fugiu do Complexo 24 Horas, no Setor Universitário, em Goiânia.
O jovem havia sido internado pela família no Abrigo Adonai, do Ministério Terra Fértil, mas fugiu. O abrigo comunicou a família de Wesley da fuga. Dias depois, ele foi encontrado por uma equipe de Conselheiros Tutelares de Goiânia e levado ao Complexo 24 Horas no dia 6 de setembro. O jovem, porém, acabou fugindo 7, por volta das 11h30, horário do almoço.
Uma psicóloga, do Complexo tentou argumentar com o adolescente. A família, de Luziânia, a 197 km de Goiânia, não sabe a quem recorrer para encontrá-lo.
O pai, Joaquim, afirma que o filho queria ser internado. “Ele queria ficar isolado, para tentar organizar os pensamentos. Ele até pediu para jogar o cigarro fora quando estava chegando na clínica. Ele não é acostumado com cidade grande como Goiânia, meu Deus.”
O jovem foi abandonado pela mãe quando tinha dois anos. Depois disso, foi diagnosticado com hiperatividade e esquizofrenia. Mais recentemente, Wesley foi encaminhado para o abrigo Adonai depois de uma triagem pelo Centro de Atenção Psicossocial (Caps) de Luziânia quando teve mais uma das crises que o tornaram um menino incontrolável.
“Desde pequeno, ele apresenta comportamentos agressivos, mas quando começou a fumar maconha, a situação piorou”, diz a tia do jovem, Sandra Ferreira, com quem ele morava. “Mas não pode só falar de droga. Ele tem problemas maiores”.
É ela quem enumera o histórico de diagnósticos. “Ele ainda tem TDAH, que é Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade e, para piorar, ele tem Transtorno Opositivo-Desafiador, o TOD”, conta.
Sandra afirma que para o sobrinho chegar ao diagnóstico, ele sofreu muito. “Da creche à escola, o que mais falavam pra gente era que meu sobrinho tinha que apanhar. E apanhava, tadinho. Ele apanhava muito porque ninguém entendia como uma criança poderia ser tão agressivo e inquieto”, lamenta.
“Esses transtornos levaram ele à sociopatia, ligada à esquizofrenia. Com o tempo, ele passou a fumar maconha. Mas eu sempre bato na tecla de que as drogas não abalam tanto quanto à incompreensão dos problemas que ele já tinha”, diz.
Menino desaparecido em Goiânia está sem remédio
“Ficamos preocupados porque não sabemos onde ele está, sem tomar remédio. Ele pode cometer alguma besteira e acabar preso. Apanhar, ser morto. Por isso precisamos saber onde ele foi parar. Precisamos buscá-lo e depois encontrar uma forma de tratá-lo da melhor forma. Tudo que procuramos até agora deu errado”, desabafa a tia, que é professora em Luziânia.
Antes de começar a chorar, a tia lembra de uma das frases que mais lhe emocionam. “Quando ele bem menorzinho, uma professora me chamou de lado e falou que a gente deveria arrumar uma roça para meu sobrinho. ‘Olha, esse menino não para quieto. Tem que levar ele para um lugar longe das pessoas’. Eu não esqueço.”
A reportagem não conseguiu falar com os responsáveis pelo Abrigo Adonai.