Havia neste ano, em Cannes, uma forte representação japonesa. O júri presidido por Cate Blanchett premiou Shoplifters, de Hirokazu Kore-eda. Há muito o cineasta merecia sua Palma de Ouro. Ganhou-a por seu filme talvez menos satisfatório. O júri teria ousado mais, e feito a coisa certa, se tivesse premiado o outro japonês, Ryusuke Hamaguchi, por Asako I e II. Um filme em duas partes sobre a (des)ilusão amorosa. Uma mulher, Asako, apaixona-se por um artista, ele some. Ela encontra o perfeito clone dele. Unem-se e, por muitos anos, levam uma vida tranquila – até que o outro reapareça, agora como uma celebridade. Ele reclama a antiga prometida, que joga a sua vida para o alto. Estará fazendo a coisa certa?
Asako I e II inaugura nesta quarta, 12, o Festival Indie de 2018. O evento surgiu há 18 anos em Belo Horizonte. Essa é a 12.ª edição em São Paulo. O tema do festival deste ano é Novos Formatos para Novos Tempos. Asako I e II encaixa-se à perfeição no conceito. Hamaguchi costuma ser comparado a Eric Rohmer. Faz filmes que estrutura segundo diferentes pontos de vista de personagens. Joga com o tempo. Justamente, o tempo. Talvez seja a grande proposta do Indie 2018. O cinemão, que faz filmes para o mercado, elege durações padrões em torno de duas horas.
Happy Our, outro filme de Hamaguchi, exibido em outro Indie, há dois anos, tem mais de cinco horas. Da Argentina vem, para essa edição, La Flor, de Mariano Llinás. O longa, e põe longa nisso, tem cerca de 14 horas de duração. Realizado ao longo de nove anos, apresenta quatro atrizes – Pilar Gamboa, Elisa Carricajo, Laura Paredes e Valeria Correa -, que se revezam interpretando várias personagens, em diferentes histórias e gêneros. O filipino Lav Diaz, que costuma reger sua obra pelo espaço e pela natureza, não pelo tempo, dessa vez apresenta um filme, a ópera-rock Estação do Diabo, que só tem quatro horas! Praticamente, um curta.
O Indie deve ocorrer no Cinesesc, até dia 19.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.