Um incêndio na noite de domingo (3/9) em uma clínica clandestina em Goiânia matou dois homens e deixou outro ferido.
A Comunidade Terapêutica Beth Shalom, no Sítio Recreio Pindorame, atendia homens há um ano e meio. Administrada por Elizete Beltoldi, a unidade contava com 32 homens – entre dependentes de álcool e drogas – distribuídos em seis quartos.
Um interno, identificado como Lindomar Venâncio Paixão, de 28 anos, teria provocado o incêndio colocando fogo em colchões e cobertores. A suspeita da Delegacia Estadual de Investigações de Homicídios (DEIH) é que o homem quisesse fugir.
Depois de utilizar o isqueiro – que deveria ter entrada proibida no local – para colocar fogo no colchão de uma das oito beliches, Lindomar fugiu. Dois internos com quem dividia o quarto morreram asfixiados no quarto.
André Alves Ramos, de 32 anos, e Emanoel Júnior Resende da Costa, de 17 anos, se esconderam no banheiro do quarto e acabaram morrendo. O Corpo de Bombeiros chegou ao local, combateu o fogo e encontrou os corpos. Francisco Charles dos Santos, de 24 anos, sofreu queimaduras pelo corpo e foi levado para o Hospital Estadual de Urgências da Região Noroeste de Goiânia Governador Otávio Lage de Siqueira (Hugol).
Lindomar fugiu para uma clínica próxima, mas foi preso por policiais e levado para a Central de Flagrantes. O delegado Marco Aurélio Euzébio, responsável pelo inquérito, não quis dar detalhes da investigação.
Homem queria fugir em clínica clandestina em Goiânia
Para a Polícia Civil, Lindomar contou que é usuário de crack, cocaína e maconha. Ainda na delegacia, disse que se arrependeu do que fez e que a vontade de sair do local o motivou a atear fogo. Ele acreditava que a fumaça obrigaria os coordenadores do local a abrirem as portas.
Na clandestinidade, conforme apurou o Portal Dia Online, pelo menos 20 dos 32 internos chegaram à unidade compulsoriamente, ou seja, contra a própria vontade. “Os dois que morreram e o que ateou fogo são alguns dos que vieram por determinação de juiz”, diz Elizete Beltoldi, presidente da instituição, sem dar detalhes. “Tenho os documentos”, garante.
Elizete não esconde que ainda não conseguiu cumprir as exigências para obter alvará de funcionamento: nem permissão dos Bombeiros nem da Vigilância Sanitária.
“Por isso não consideramos que ali seja uma comunidade terapêutica. Eles têm característica de clínica, mistura de pacientes”, comenta a representante da Associação Goiana das Comunidades Terapêuticas, Sherydan Luiza.
Não é raro encontrar residências com placas e promessas de restauração de instituições. Nos ônibus, nos terminais e em sinaleiros, milhares de panfletos são distribuídos para a promoção de lugares sem documentação. “Em Goiânia, temos apenas 15 Comunidades Terapêuticas cadastradas”, revela Célia Aparecida, que faz parte do Conselho Municipal de Política sobre Drogas.