Emocionado, o jovem Ronyere Rodrigues da Silva, de 27 anos, comemora a aposentadoria por invalidez recém-adquirida. O rapaz tem diagnóstico de transtorno bipolar, uma doença considerada grave marcada por grandes alterações de humor.
A audiência foi realizada pelo juiz Joviano Carneiro Neto, durante o Programa Acelerar – Núcleo Previdenciário na comarca de Itapaci, interior do Estado. O jovem conta que um dos sintomas da doença é a alternação entre momentos de profunda euforia e de profunda depressão. “Já aconteceu de estar ótimo e de repente eu surtar”, disse, em entrevista à assessoria do Tribunal de Justiça de Goiás.
O transtorno bipolar acomete entre 3% e 6% da população mundial. No Brasil, a doença atinge 4,2 milhões de pessoas e muitas das vezes é banalizada. Segundo dados, em pessoas bipolares, o risco de apresentar comportamento suicida chega a ser 28 vezes maior do que no resto da população. “Eu já quis me matar. Depois que minha mãe morreu, tudo ficou mais difícil”, revelou. O pai o abandonou e se hoje o encontrar na rua “ele finge que não me conhece”.
Ronyere faz tratamento há 8 anos e garante que se tomar os remédios todos os dias consegue viver uma vida normal. “Mas mesmo assim, eu ainda sofro. Sou discriminado, as pessoas têm medo de mim e acham que vou bater nelas. Eu já aprontei muito quando eu estava em crise, mas hoje tomo remédio controlado e não faço nada com ninguém, sou uma pessoa nornal. Estou fazendo algo com você? Te tratando mal? Não sou uma pessoa normal?”, questionou.
Ronyere relata que é uma pessoa sozinha, que o pai o abandonou, os irmãos não querem saber dele. “A única coisa que eu tenho de família são meus padrinhos. Eles me entendem e me ajudam”, falou ao abraçar o casal. “Eu fico andando pela cidade sozinho, quero me mudar daqui. Recomeçar, ir para um lugar onde as pessoas não saibam que eu tenho essa doença”, afirmou.
O jovem diz que os sintomas apareceram quando era criança, mas foi em 2010 que descobriu que estava com a doença e iniciou o tratamento. “Não tenho sono e já tive muitos episódios de agressividade e melancolia. Tenho dificuldade de aprendizado. Eu estou no nono ano ainda”, frisou. Ao lembrar de algumas crises que teve, Ronyere conta que já surtou em seu último emprego, já foi internado três vezes, teve delírios e alucinações visuais e auditivas. “É uma doença muito séria e deve ter tratada”, finalizou.
A sentença do juiz
O juiz Joviano Carneiro Neto julgou procedente do pedido de Ronyere para conceder o benefício previdenciário ao jovem. O magistrado destacou que o benefício da aposentadoria por invalidez é concedido aos trabalhadores que, por doença ou acidente, forem considerados incapacitados para exercerem suas atividades ou outro tipo de serviço que lhes garanta o sustento, conforme dispõe o artigo 42, da Lei n8.213/91.
O laudo médico, observou o juiz, concluiu que o jovem é portador de doença psiquiátrica de difícil controle, apesar de tratamento regular. “No início do quadro fora diagnosticado como esquizofrenia, porém reavaliações posteriores a diagnosticou como transtorno bipolar. Possui grande prejuízo intelectual, cognitivo e social. Apresenta surtos psicóticos e agressividade”,consta no laudo, que ao final indicou a existência de incapacidade total e permanente.
Transtorno bipolar
Em entrevista ao Dia Online, o psiquiatra e professor da Universidade Federal de Goiás (UFG), Murilo Ferreira Caetano, conta que o chamado transtorno bipolar tem forte potencial de gravidade.
Segundo o Dr. Murilo, o transtorno tem um processo denominado de ‘surto de remissão’, onde o portador alterna entre períodos de euforia e depressão. “O paciente pode ficar semanas e até meses em estado depressivo, para depois entrar em um estado de euforia”, explica.
Ainda de acordo com o psiquiatra, o fator genético do transtorno é comprovado. “A criança cujos pais têm transtorno bipolar tem uma altíssima probabilidade de ter a doença”, conta.
O transtorno não tem cura, e o tratamento deve ser até o fim da vida do portador, com o uso correto de medicação. Situações de estresse vivenciadas pelo portador da bipolaridade podem agravar o quadro de sintomas. Por isso, devem ser evitados.