Quando morreu soterrado, Pedro Paulo Rodrigues, de 16 anos, cavava um buraco em um monte de areia com um primo de 4 anos. Ele brincava de se esconder na areia, mas o monte cedeu. A tentativa de socorrê-lo veio tarde demais, mais de uma hora depois, na tarde desta quarta-feira (22/8), na Cidade Ocidental, no Entorno do Distrito Federal.
Órfão – a mãe morreu de câncer e o pai atropelado na GO-040 – o menino morava com a irmã no Piauí. Nos últimos meses, contudo, ele fugiu de lá e veio para Goiás. “Ele era muito agitado, queria ficar perto dos primos”, disse o irmão Jorge Rodrigues. “Minha irmão me ligou desesperado falando que o Pedro tinha desaparecido. Três dias depois ele apareceu por aqui.”
Na cidade, o menino era conhecido nas feiras por vigiar carros e carregar sacolas. “Ele achou esse jeito de ganhar dinheiro. Ele gostava mesmo era de aventura, sumia no meio do mato por até três dias”, lembra Jorge antes de contar que, quando ficou órfão, foi levado para o orfanato com outros dois irmãos menores.
Os filhos menores foram distribuídos entre os irmãos mais velhos. Pedro foi morar com a irmã no Piauí, mas, como contou Jorge, ele preferiu morar em Goiás. A vida do menino era fugir, se aventurando, tentando se encontrar.
“Não teve infância, sofria muito.” Vai ver foi por isso, aos 16 anos, que Pedro Paulo mais parecia uma criança, como é lembrado em postagens no Facebook. Ele brincava com o priminho quando a areia o soterrou. “O menininho ficou puxando o pé dele e depois entrou na casa falando que não queria mais brincar porque o Pedro estava gelado”, lembra, com voz embargada.
Sofria muito.
O rapaz cavou na altura do joelho na areia molhado, entrou no buraco, mas o monte cedeu e caiu sobre ele, que ficou pelo menos uma hora debaixo da terra. A família ainda chamou o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que tentou reanimá-lo, mas o jovem não resistiu.
“Sua missão foi cumprida aqui nos deixando eternas saudades. Vai em paz, Pedro Paulo”, escreve uma tia. “Ô meu Deus, como vou conseguir ficar sem você”, indaga uma amiga. “Não sei como me despedir de você, com esse carinho que ninguém vai conseguir superar”, diz outra.
“A gente não espera que um irmão da gente morra assim, brincando, coisa do destino”, acredita Jorge Rodrigues, ao telefone, antes de o corpo do irmão ser liberado para o sepultamento.
Leia relato da irmã que cuidava de adolescente que morreu soterrado em Goiás
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