O que era para ser apenas um descontraído lanche entre amigos numa noite de quinta-feira, acabou se tornando um verdadeiro pesadelo para a estudante de Direito Maria Gabriela, de 23 anos. Em vídeo que circula nas redes sociais, é possível ver a moça, mesmo com as mãos nas costas e totalmente imóvel, levando violentos tapas no rosto por parte de um policial militar em uma abordagem no setor Universitário, em Goiânia.
Em entrevista ao Portal Dia Online, Maria Gabriela, que cursa Direito na Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás) conta que na última quinta-feira (16/8) saiu da faculdade e, acompanhada de dois amigos, foi para um dos campi da Universidade para que um dos amigos resolvesse uma questão da matrícula.
Como o departamento responsável estava fechado, o grupo de amigos resolveu, então, ir à uma sanduicheria na Rua 10, no setor Universitário para comer e se distrair.
A estudante relata que na hora de irem embora, o atendente da sanduicheria interpelou um de seus amigos alegando que o rapaz não havia pago pelo lanche, alegação essa rebatida pelo grupo que afirmou que o rapaz havia pago assim que solicitou a comida.
Um desentendimento acabou sendo criado, momento em que a dona do estabelecimento resolveu chamar a polícia. Quando os quatro policiais militares chegaram, três homens e uma mulher, segundo Maria Gabriela, seus dois amigos foram postos do outro lado da rua para serem revistados.
“Ele me dava tapas na cara e me xingava”
Maria Gabriela conta que, então, resolveu se aproximar e perguntar pelo motivo da revista, uma vez que, de acordo com a lei, o revistado deve ser obrigatoriamente informado do motivo da abordagem e da revista. Entretanto, ainda de acordo com o relato da estudante, um dos policiais pareceu não ter gostado do questionamento, e mandou que Maria Gabriela também encostasse, com as mãos para cima, para ser revistada, ordem que a moça prontamente obedeceu.
Entretanto, a estudante de Direito insistiu na pergunta, e mais uma vez questionou o policial sobre o porquê da abordagem. E foi nesse momento que Maria Gabriela sofreu a primeira agressão por parte do PM. “Ele me mandou calar a boca e me deu um tapa na cara. Mesmo assim, continuei perguntando por que aquilo estava acontecendo”, relata.
Depois do primeiro bofetão, Maria Gabriela continuou questionando o motivo da abordagem, como informa a lei, e acabou levando mais dois fortes tapas no rosto (visíveis no vídeo no final desta matéria), dessa vez, segundo a jovem, acompanhados de xingamentos e ofensas. “Ele me mandava calar a boca e me chamava de vagabunda, folgada”.
Incrédula com a situação, depois de levar o terceiro tapa a estudante perguntou para a policial do sexo feminino, que observava a tudo, por que estava sendo agredida. A resposta a deixou perplexa: “Ela disse que eu estava apanhando porque estava resistindo. Eu estava parada com as mãos para trás! Se eu estivesse realmente resistido, ele teria me espancado”, lembra Maria.
Como não encontraram nada ilícito com o grupo de amigos, os policiais os liberaram e foram embora. Quando os jovens voltaram para a sanduicheria, uma mulher que comia no local e que havia presenciado todo o ocorrido disse que havia filmado o momento da agressão, e enviou o vídeo para Maria Gabriela.
A estudante, que está profundamente abalada psicologicamente, procurou a Corregedoria da Polícia Militar na manhã do dia seguinte, sexta-feira, e denunciou o acontecido, munida da prova do vídeo. “Eu não vou me calar. Eu fui humilhada sem ter feito nada, e eu conheço meus direitos”, desabafa.
Segundo Conselheira da OAB, houve excesso por parte da PM
Em entrevista exclusiva ao Portal Dia Online, a presidente da Comissão da Mulher Advogada e Conselheira da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Dra. Ariana Garcia, declarou que o excesso da PM foi explícito. “Ali naquela situação, era nítido que ele [o PM] já havia controlado a situação. O que a Maria Gabriela fez foi questionar o que estava acontecendo”, explica.
Ainda segundo a doutora, o comportamento do policial que agrediu a estudante causa perplexidade. “O policial agiu com extremo machismo e misoginia em relação à conduta de uma mulher consciente de seus direitos”, esclarece.
Quanto às ofensas e xingamentos relatados por Maria Gabriela, conforme a Dra. Ariana, já se tornou algo comum no meio policial. “Infelizmente é uma situação de praxe nas autoridades públicas e policiais em relação a quaisquer tipos de mulheres, fato contra o qual estamos lutando no mundo inteiro”, finaliza.
A reportagem do Portal Dia Online tentou contato com a Corregedoria da Polícia Militar de Goiás e com um Coronel da corporação, mas até o fechamento desta matéria não obteve resposta.
Veja o vídeo do momento em que Maria Gabriela é agredida pelo policial: