Seis meses depois de morrer, a matrícula do marido de uma servidora da Prefeitura de Goiânia, que era dependente dela, foi utilizada de maneira suspeita para fazer exames em uma clínica conveniada ao Instituto Municipal de Assistência Social (Imas). A suposta irregularidade é uma das constatadas por uma auditoria da Controladoria Geral do Município de Goiânia (CGM) e em documentos obtidos com exclusividade pelo Portal Dia Online .
Morto em junho de 2017, o marido da servidora teve a matrícula utilizada para realização de exames no dia 6 de fevereiro deste ano na Urgembras Eire-ME, que tem um contrato de R$ 10 milhões com o Imas.
A surpresa de que a matrícula do marido estava sendo utilizada veio por meio de uma visita de funcionários do próprio Imas. O marido, segundo ela, teria passado por consultas com um geriatra. “Ele nem ia ao geriatra”, contesta. A servidora conversou com o Portal Dia Online na mesma semana em que soube de que médicos atenderam ao marido seis meses depois de sua morte.
“A gente sempre precisou de atendimento, mas eles sempre diziam que não tinha vaga, que não atendia porque não recebia do Imas”, relata, na casa em que mora nos fundos de uma igreja no setor Novo Mundo, em Goiânia. Com o atestado de óbito do marido, ela conseguiu suspender os “atendimentos” ao finado, mas não imaginava que aquilo não era um erro, mas provavelmente uma fraude.
“Meu marido era muito certinho com as coisas. Se ele soubesse disso, não ficaria feliz”, diz ela que prefere não se identificar. Assista a entrevista em um vídeo no final do texto.
Um caso semelhante aconteceu com a servidora Sueli das Dores da Silva. Ela denunciou as irregularidades à ouvidoria da Prefeitura de Goiânia depois de tentar marcar exames e ser informada de que ela já tinha passado pelos procedimentos. A filha, advogada, conseguiu resolver o problema. Juntou documentos e procurou, além da Prefeitura, o Ministério Público. Nem ela nem a mãe quiseram gravar entrevista.
No documento, escrito de próprio punho, Sueli das Dores relata que se surpreendeu com exames que ela não fez pela Urgembras Eire-ME. Ainda no documento, a servidora conta que compareceu ao Imas em 26 de fevereiro de 2018 ao constatar, no extrato de despesas, exames de eletroneuromiografia.
“Declaro que [também] não passei por consulta [com o reumatologista] Gleydson Jerônimo da Silva e [com o geriatra] Carlos Henrique”. Além dos exames que não fez, ela contesta assinatura das guias.
“De forma criminosa”
É com desconfiança que o servidor Márcio Pereira de Oliveira atende o telefone. Quer saber como a reportagem conseguiu o seu contato. Prefere não comentar as cobranças e a utilização de sua matrícula. Para a Ouvidoria, ele informou que a sua matrícula vinha “sendo usada de forma criminosa para atendimentos na empresa Urgembras. Nunca estive lá”, conclui em uma denúncia do dia 20 de março deste ano.
Para a reportagem, o presidente do Imas, Sebastião Peixoto, nega as irregularidades e que todas as notas à empresa foram canceladas. “Está tudo certo, não tem nada irregular”, disse.
Na próxima reportagem, Dia Online vai relevar quem são os responsáveis pela fraude e como eles atuam dentro do Imas.