Todos os dias as mulheres são obrigadas a passar por situações constrangedoras em locais públicos, principalmente em ônibus e metrôs. São comentários de teor obsceno, olhares, intimidações, toques indesejados e importunações de teor sexual e que na maioria das vezes são interpretados pelas pessoas como atitudes comuns e até como elogios.
Dados do Instituto Maria da Penha revelam que a cada dois segundos uma mulher é vítima de violência física ou verbal no Brasil e que a cada 1.4 segundo uma mulher é vítima de assédio, seja sexual ou moral. Estes atos são considerados crimes pela Constituição e se comprovada a prática, os autores serão condenados e multados.
Um levantamento feito pela Organização Não Governamental Think Olga revela que 99,6% de 7,7 mil mulheres entrevistadas durante pesquisa já foram assediadas em algum momento de suas vidas. O documento revela, ainda, que cerca de 98% sofreu assédio na rua e 64%, no transporte coletivo.
É muito comum também que o assédio comece com pessoas próximas, por meio de elogios, abraços com más intenções, olhares e palavras que deixam as mulheres desconfortáveis, seja em casa, na rua ou no ambiente de trabalho. Com o passar o tempo, o assédio cresce até virar algo pior como agressão sexual, psicológica e moral.
De acordo com a delegada Ana Elisa Gomes, responsável pela Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher (DEAM), o número de denúncias vêm crescendo cotidianamente, pois as mulheres estão ficando cada dia mais conscientes de seus direitos.
“Eu não atribuo essa denúncias exclusivamente ao fato do aumento da criminalidade. Eu acredito, essencialmente, que as mulheres estão conscientes de seus direitos e estão realmente não tolerando mais as agressões, tanto a violência física, como a violência psicológica e a violência moral. Elas estão denunciando mais. Eu não tenho dúvidas disso”, explica.
Confira a entrevista completa com a delegada:
Em Goiânia, segundo uma pesquisa feita pelo Grupom Consultoria e Pesquisas, neste mês de março, um a cada quatro usuários do transporte coletivo já sofreu assédio sexual. O índice é ainda maior entre as mulheres: 34% das entrevistadas já foram vítimas desse delito. Entre os homens, o índice é de 7%. O levantamento aponta ainda que 66,1% disseram conhecer alguém que já foi vítima desse crime enquanto estava esperando o ônibus ou já dentro do transporte público.
Campanha “Não Vai Ter Psiu!”
Em fevereiro do ano passado foi criada em Goiânia a Campanha ‘Não Vai Ter Psiu!’, que começou a partir de uma tentativa de estupro a uma servidora, dentro da Câmara Municipal de Goiânia. Segundo o idealizador da Campanha, o vereador e presidente da Câmara Municipal, Andrey Azeredo a intenção da campanha é conscientizar as mulheres para que em caso de assédio e agressões elas saibam quem procurar, onde e como denunciar.
Uma ação que inicialmente era apenas dentro da Câmara, foi tomando proporções ainda maiores e hoje atende mulheres de Goiânia e Região Metropolitana.
“Temos que dar a elas uma certeza de que em situações como essas, elas terão um braço forte, a Delegacia da Mulher, a Câmara dos vereadores de Goiânia e a Justiça, para apoiá-las e evitar um mal maior”, explica Andrey.
Confira a entrevista completa com o criador da campanha “Não Vai Ter Psiu!”:
O presidente assegura também que com a Campanha as mulheres se sentem encorajadas a denunciar e depois da ação denúncias surgiram. “Nós temos relatos de mulheres que denunciaram depois de acompanhar a campanha. Elas entenderam como funcionam esses órgãos repressores a esses crimes e se sentiram encorajadas a denunciar”, relata.
A delegada também acredita que campanhas, exposição na imprensa e nas redes sociais ajudam a vítima a procurar auxílio da polícia e esse encorajamento é real. “A mulher vítima da violência de gênero tem tido a consciência que precisa denunciar o agressor para que possamos ajudá-la a deixar esse ciclo de violência”, conclui Ana Elisa.